quinta-feira, 23 de agosto de 2018

De um lugar por inventar ou um quotidiano pardacento...


Lugar é inóspito e não é porque o vento seja agreste ou a terra árida!
A hostilidade revela-se nos rostos fechados e hirtos, nas bocas estéreis, seladas às palavras amáveis, às gargalhadas e à benevolência. Uma fina mas opaca capa de verniz ofusca o olhar gelado e à primeira vista; quando alguma mão se estende naquilo que deveria ser um sinal de boas vindas, os homens são cavalheiros e as mulheres exuberantes na sua feminidade.  
Tudo isto aponta para que, se sinta uma intrusa em terra alheia e esteja prestes a rebentar…

José Afonso e o Panteão Nacional.

Zeca, o meu e o vosso Zeca, o Zeca da fraternidade, das cantigas e das baladas, o Zeca humanista e futurista, o Zeca lutador. O Zeca da luta pela Liberdade e Igualdade e que nasceu num país pobre e subjugado por uma ditadura que governou os nossos destinos durante quarenta anos!...

O Zeca no Panteão Nacional sim ou, não?

Não, o nosso Zeca, o Zeca do povo não deve ir para o Panteão, não senhor.

Se o Zeca for para o Panteão terão que ir o Álvaro Cunhal, o Salgueiro Maia, Sá Carneiro, como propôs o PSD recentemente, e muitos outros que fazem parte da nossa história recente e, aí, sim. Teremos o Panteão de todos os portugueses.

Acham estranho e bizarro este meu raciocínio?

Eu também acho estranha e bizarra esta proposta vinda da SPA, e depois de assistir ao Vídeo no Site da associação em que Jorge Letria, um dos poucos civis que teve conhecimento prévio das manobras que levariam ao fim da ditadura Salazarista em 1974 e companheiro de Zeca no cante da Liberdade, Vídeo em que defende esta ideia, dando como explicação para tal proposta o facto de em 2019 se comemorar os noventa anos de nascimento de José Afonso e os 45 anos de liberdade em Portugal, ainda mais bizarra a acho. A não ser que, com esta proposta a SPA pretenda chamar a si o protagonismo há muito perdido, e o nome do Zeca seja a ponte para esse protagonismo, passageiro. Como é óbvio, depois da proposta mirabolante, a zoada em torno do assunto trouxe a SPA para as nossas bocas e a revolta contra tal ideia não se fez esperar.

Não que Zeca não tenha ganho por mérito próprio um lugar no Panteão Nacional, mas porque ele sempre foi contra o obscurantismo imposto por hobbies e certamente não se sentirá bem a residir perpetua mente num mausoléu inerte e frio.

O Zeca que cantou a “Grândola Vila Morena, o” Cantar Alentejano”, em que dizia. “ Chamava-se Catarina, Baleizão a viu morrer, ceifeiras na manhã fria flores na campa lhe vão pôr.” Ou o Zeca que cantou os “Vampiros” jamais se sentirá bem num local sem cheiro a terra e a povo.
Por essa razão e só por essa: Sou contra a ideia, o Zeca é das ruas, praças e avenidas deste país, é dos livros escolares e das nossas memórias, é do vento, dos trigais, de Coimbra e dos índios da meia praia.


Antónia Ruivo, 23/08/2018



sexta-feira, 17 de agosto de 2018

“escritores.online”


“escritores.online”

O nome da plataforma que tinha como objetivo, e digo tinha porque, desapareceu recentemente sem alarido dos motores de busca. A plataforma tinha como meta tornar-se na maior e a mais completa base de dados de escritores e poetas contemporâneos a escrever na língua mãe, a língua de Camões. Para espanto meu e de muitos outros, a mesma desapareceu da noite para o dia, sem grandes explicações ao público no geral e muito menos aos autores que forneceram os seus dados, permitindo assim a criação de dezenas de páginas individuais. Tudo se passou sorrateiramente, ao contrário daquilo que aconteceu em 2016, ano do seu lançamento para o espaço cibernético, em que a pompa e circunstância tomaram de assalto as redes sociais, contribuindo todos nós para o número astronómico de cliques no portal, num curtíssimo espaço de tempo.  
O espaço para além dos autores consagrados estava aberto a autores de menor relevo, como é o meu caso, e contou com o apoio da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. Segundo se fez saber na altura, estas instituições pretendiam fazer chegar ao universo da língua portuguesa uma ferramenta livre dos habituais objetivos comerciais.  
Ora!... É aqui que a porca torce o rabo, fico eu a matutar. Lamentando por um tão breve tempo de vida de uma ferramenta idónea, reconhecida pelo atual Presidente da Republica, e, que, como muitas outras coisas que envolvem a cultura em Portugal, conforme aparecem assim se evaporam.
Portanto; meus amigos: está tudo dito num país de poetas e escritores!
 

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Povo de pés descalços…


De que servem ideias aleatórias… utopia ou realidade…
As marés são como as colmeias, vazias ou cheias…
A inutilidade depende quase sempre da vaidade.
As vozes casuais são inúteis e das mãos frias
não brotam borboletas.

Ai… triste sina malfadada, povo de pés descalços…
Embarcas no silvo da serpente e raramente
ergues ao alto o esplendor. Costas curvas,
olhos tristes, triste fado embriagado.
Parco engodo em que caíste.

De que servem ideias aleatórias se a história se repete.
Embora digas que não: És marioneta na sua mão.
E enquanto o diabo esfrega um olho, dás por ti…
Estás no chão!




quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Tudo o que me resta…


A ilusão é uma caixa de pandora.
Mito ou realidade, esperança ou utopia.
Pode ser apenas a vontade, sem primazia!

Então… porque sinto que o mundo caminha ao contrário!...
Revejo nos dias os rumores de ontem.
Choram as pedras, sufoca a terra, morre a esperança.
Choram os ecos abandonados à sorte.

A fraude está na supremacia enjeitada.
Na palavra sem palavra, de fato e gravata.
Está na promessa, gasta.
E eu… pobre poeta de sarjeta:
Sinto que o mundo caminha ao contrário
e tudo o que me resta…
É a futilidade de um poema!



Poesia falada, Mulher Alentejana.