domingo, 25 de março de 2018

Voltamos ao menino que não deixaram ser menino…


Se a exibição não fosse o véu; mais além…
De um azul safira que fere o sentido,
seria com certeza um balão,
preso por um fio transparente,
devedor ao sol, ao vento e à chuva.

Ah!... Que sina esta. Traiçoeira é a sorte
no deserto. Quando o incerto é raiano.
Trago comigo guardado no peito o impossível.
Mergulho no espaço circunscrito ao viver,
enquanto as estrelas adormecem,
os rios secam e a humanidade morre de tédio.

Epílogo, pode ser a terra gretada,
uma papoila açoitada pelo vento,
ou o embate do desconhecido.

Tudo e nada tem sentido quando a alma implora.
Diz – qualquer criança pode ser criança.
Responde à pergunta sabiamente,
não te distraias nos holofotes.
Qualquer mulher pode ser mulher.
Qualquer homem pode ser homem.
Mas nem todas as crianças são crianças,
se uma bala perdida lhes rouba o sorriso.
Nem todos os homens são livres,
se outro homem lhe impinge as algemas e,
nem toda a mulher tem direito a viver.
Se até o parir pode ser fonema!

Estranho é o dom da palavra.
Mais estranha é ela, proscrita.
Quando o pensamento agoniza no inferno,
mesmo que o inferno seja a quilómetros de distância.

Repara, cantam as sereias na escuridão
e aquele menino - chora!...
Porque chora aquele menino,
se o canto das sereias é feitiço.
Indiscreto é o sentimento, incompreendido,
o sopro mutável é ressurreição!...

Se a exibição não fosse o véu mais além…
Seria a pedra fria e escorregadia
por onde fogem as manias,
enquanto a areia seca os olhos
a qualquer poeta que se atreva a chorar.

Voltamos ao menino que não deixaram ser menino.
Triste homem a quem a saudade aperta.
Para trás o destino num boneco de neve,
de um branco acinzentado pela incompreensão.



Poesia Falada.