sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Uma borboleta de asas azuis...


Gosto de ficar no silêncio de uma casa vazia.
Pinto as paredes com cores alegres e vistosas
no teto desenho uma borboleta de asas azuis
no chão pintalgo os sonhos, invento o amor.
Desnudo as janelas e dos vidros transparentes
arquiteto a claraboia para o futuro.

Gosto!... Sim gosto.
Da calma de uma tarde de verão
de inventar os passos no corredor.
Os risos na sala ao lado
e o teu rosto na frieza do vazio.

Talvez me aches doida!
Como se doida não fosse a distância
e o deserto não fosse o sentimento
sem aceitação.




quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Raiz quadrada...



Talvez me ache a raiz quadrada
do tempo presente, sem tempo marcado.
Talvez me aches a multiplicação
de um caso falhado.
Talvez me sinta vazia por dentro
no centro peado, no oco gerado
de um caso tramado.
Talvez me vejas na projeção
de um desejo apagado.
Talvez eu seja o reflexo difuso
da tua mente
o desejo obscuro da incerteza
a vertigem escondida
o caminho perdido
a fonte sem vida.

Não!...
Sou a estrela mais pequena do universo
o calor de agosto
o luar de janeiro.
Sou o vento a bailar nas cearas
o suor do rosto, o som da água.
Sou o moinho e a Mós
a lonjura alentejana
num choro de mulher.
As cigarras.
as formigas no carreiro
o sobreiro.
Sou o povo e sou do povo
sou das gentes
sou da terra.
Sou da guerra sem ter armas
sou Palavra e o teu pior pesadelo…
São os genes da Palavra.



sexta-feira, 16 de agosto de 2019

No vento do sul...


No vento do sul
O sonho ao de leve
O momento tingido
Pelo sol de agosto
As flores da campina
Uma giesta brava
No vento do sul
A alma levita
Na brisa que afaga.

No vento do sul
Ao som do compasso
No restolho seco
O som de cigarras
No vento do sul
Os dias não passam
Nos ecos da história
A estaleca registe
À terra gretada.



quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Sem disfarce...


Mesmo que no sepulcro se afogue a Liberdade.
Não deixarei de lembrar à sombra das guilhotinas.
Os sonhos e a força da Palavra amordaçada.
Se o sol se tapar no horizonte e o medo se instalar
na madrugada, deixarei às Pedras o peso
das ideias, sem disfarce.




quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Emoção...


Se sorrir é porque as estrelas caíram
aos meus pés
os sentidos sondaram a emoção
e ao coração sobrou a vida.
Se sorrir é porque bom dia te direi...
Olhos nos olhos como manda o figurino
e o rio será a luz que vem do sol
a paz que vem de além
de entre a terra
do verde da serra
e da ilusão.



Motivo...


Preciso de paz como preciso de tempo
sonhar e ser.
Ser um ser Imperfeito
aos olhos alheios.
Um ser em que o Ser
não é só mais um atributo.
Ser o teu motivo para Sorrir.
O meu motivo para te Amar.
Preciso de paz na Paz que encontro
nos teus olhos!


Disfarce…


Se eu não te olhar com a leveza na alma…
O disfarce é o receio que não me vejas
para além da aparência.
Por mais que os olhos sorriam
caiu o meu ver na magreza dos dias
e a noite levou de vencida
como uma sombra mordaz.



sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Busca...


Repara… como o silêncio faz de nós, Imortais.
Perdido… num dia de outono fez de nós, Vendavais.
Na busca perfeita de um amor imperfeito
fez de nós… A pedra fria onde adormece o Sonho.

Repara… como o eco da alma é submisso à Vontade!
E os dias sempre iguais são sepulcro e ambição.
A certeza cinzenta que atormenta a ilusão.
O manto incolor da suprema vaidade.

Repara… como a auto-estima aniquila a mais pura paixão
e esta calma aparente é um manto incolor
esburacado e frio!...
A busca constante por um pouco de Amor.



Poesia falada, Mulher Alentejana.