quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Instante…


Quem sabe sou eu que estou cansada.
deixo sempre ao tempo o tempo certo.
Por mais insidiosa que seja a estrada
nas bermas há sempre algo de concreto.

Perene… a origem onde sacio a caminhada…
Lá atrás está o momento a céu aberto
e a seu lado a saudade enamorada,
neutralizada pela luz fria do deserto.

A oportunidade quase sempre nos avisa.
Nada acontece por acontecer… Indecisa
é a inquietação no verbo agradecer.

Ah quantas são as sombras ao entardecer!...
E mesmo assim reanimam até este escurecer,
já que um instante na penumbra profetiza.






Batatas e batatinhas…


Uma batata em palito
Diz agoniada à rodela
O cozinheiro é maldito
Fez do cardápio novela.

Não olhem para mim assim
Que aquilo que vou contar
É muito mais que rimar
E quando chegar ao fim
É que vai ser um festim
Batatas a rebolar
Também as há a fritar
Outras estarão em puré
E para agitar o banzé
Uma batata em palito!...

É franzina a criatura
Esturricada na ponta
Mas é coisa de pouca monta
E a culpa é da fritura
Com ketchup em fartura
Tem a vida resolvida
Mas a batata empedernida
Acordou enviesada
E com postura deslavada
Diz agoniada à rodela.

Tu que és de corte perfeito
Redondinha, redondinha
Não te quero para vizinha
Por não te achar qualquer jeito
A outra leva a mão ao peito
E nem quer acreditar
Que um palito a flutuar
Está no meio da frigideira
Mas que raio de brincadeira
O cozinheiro é maldito!

Na hora de ir para a mesa
É que foi a confusão
Esbarraram no empadão
E numa batata chinesa
E por pouco a sobremesa
Não abalroou o guisado
Já que o palito endiabrado
Aterrou nas pataniscas
Porque o cozinheiro em vez das iscas.
Fez do cardápio… novela!



sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Será o amor uma ilha...


Pergunto sem resposta: o que será do amor.
Sem espaço ou tempo, o amor pela partilha.
Sem gestos programados, mudos mas com cor.
Pergunto sem resposta: será o amor uma ilha.

Onde cada qual se limita ao ter, sem esplendor.
Os teus gestos são mecânicos e os meus, bastilha.
As frases programadas incitam ao louvor.
Mas no final são ocas, desprovidas de ardor.

Não quero este tempo, sem lei nem roque.
Estou a mais num espaço descabido e frio.
Busco mas sei que me escapa o norte…

Talvez porque a incerteza tomou conta do rio.
E a vida já não vale por si só. Amor… será fake.
Num amanhã desprovido, pelintra e vazio!




quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Dias frios...


Chove e a chuva ao cair na calçada
Saúda o tempo das lareiras
As pedras são flores desfolhadas
E os passos são pássaros fugidios
É o corpo um monte de arrepios.

Chove e a chuva a cair na calçada
Traz a reboque a promessa
Dos dias frios!



O resto...


Não sei para onde os passos me encaminham…
Há aqueles dias em que sequer sei quem sou!
Há quem me veja pássaro ferido, sem ninho.
Leão enraivecido, triste palhaço de palavra fácil.
Rei e pedinte, quando muito um átomo!...

Quero que me vejas; Mulher.
O resto é assombro ou indiferença.
Vaidade ou nostalgia.
Amor-próprio que vem com a certeza…

O resto é um vestido de caxemira,
uma saia de brocado
ou um farrapo a cobrir os ossos!




Até pode ser…


O possível é só ilusão… ou imperfeição…
O tempo aclara o viável ou o torna ocre.
As juras não passam de volátil intenção.
E o sonho é a lógica em busca de sorte!

Redopio pode ser o degredo sem intenção…
As faúlhas de um braseiro, o odor a enxofre.
Pode ser a morte de uma convicção.
Pode ser… pode ser viagem sem transporte!

Pode ser meu amor… aquilo que eu quiser.
Sempre que os olhos se neguem a ver.
Pode ser aventura ou pode ser a base!...

Até pode ser mesmice no acto de escrever.
Mas será sempre a razão prestes a morrer.
Num dia sem volta… quando muito; é análise!



Poesia falada, Mulher Alentejana.