sábado, 24 de fevereiro de 2018

Só me resta gritar...


Não me peças silêncio nesta hora.
Quando só resta o eco aos montes!
As palavras são grinaldas de flores.
E o silêncio atrofia.

Não me peças silêncio.
Só me resta gritar,
enquanto posso chorar.

O silêncio será senhor…
Na terra coberta de cinza.
Nas asas do vento voam gritos silenciados!…
Não será a inercia… o mal?
O eco pode ser medonho,
 mais cinza que a cinza.
Mesmo, assim: Voará na voz dos vivos…
Será dor, raiva ou impotência.
Mas será a memória.
Que os mortos deixaram antes de partir.



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Ventania...


Pressinto no murmurar das árvores
um choro, inaudível, parece rogar…
Numa prece singela que lembram as dores.
É quem sabe o prazer de ver o vento a passar.

Parecem gritar: olha o arco íris, as suas cores.
As nuvens numa correria sem par.
Olha o céu que testemunha os amores
Do sol e da lua antes da noite chegar.

Pressinto no seu murmurar a solidão.
E peço ao vento que seja ligeiro.
Que te afaste de vez do meu coração.

Tal como o delas o meu choro é inteiro.
Não tem medo do tempo em contramão.
Nem da ventania se trouxer aguaceiro.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O frio da ausência...


É preciso assimilar o frio da ausência.
Até mesmo: deixar o pensar em silencio.
A frieza pode ser inquietante envolvência.
E o momento é propicio… o fim é pronuncio!

Onde está a alegria, soberana essência.
Perdem-se as vontades sem anuncio.
Perdem-se as vidas sem eficiência.
Enquanto a emoção esquece o mistério.

De que são feitos os dias se tudo tarda.
Ficaste retido numa correria louca.
Ou andas deanbulando sem estrada.

Espero por uma madrugada iluminada.
Enquanto isso perde-se a minha voz, rouca.
De tanto gritar: és uma nuvem parada!





sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Desconhecido...

Não sei o que é isto!...
Olhar no qual resisto.
A voz que cala
o peso dos passos
ou a dor nas costas.
Não sei o que é isto!...
Olhar descrente
sem querer desmente
o riso dos lábios.
Não sei o que é isto!...
Isco mordaz
um vil; tanto faz.
Perfeita ilusão
sem calos ou mão.
Não sei o que é isto!...
Ainda, assim, insisto
nos olhos perfeitos.
Nem sei que pensar!...
Se é sonho adiado
se é um caso tramado
incuria perfeita
de ser proxeneta
nas trevas riscado.

Um gesto apagado
do desconhecido.
Sorriso torcista
Malabarista
Não sei o que é isto!


Poesia falada, Mulher Alentejana.